a energia do medo
do porvir do desconhecido
do não sabido, do inesperado
a sintonia com o animal laçado
amarrado assustado desesperado
o que vai acontecer
em pouco tempo
num tempo que finda
uma vida
uma ferida
em uma jazida
em breve estarei sob a placa : aqui jaz
sob o som do jazz
no revés
em breve serei mais nada
o final de minha estrada
na infinitude desse tempo
que agora corre como o vento
em minha memória passada
as cordas pesam nos ombros
como as notícias do dia
que não me trazem mais alegria
nesta sinfonia sem graça
sem acordes sem compassos
sob a ilusão de vitória
vivida numa vida sem glória
sem sentido para nada
les bourgeois de Calais
no caminho do encerramento
de uma história trilhada
com tantos e tantos alentos
sofrimentos
prazer gozo e dor
coloque uma lente de aumento
para enxergar de vez
...teu talento
por essa trilha vivida, nascida rejuvenescida
enxergue comigo essa estrada
acre, seca, sem vida
onde caminhei sem me dar conta
de que meu nome estará
na história eterna da vida
...e da morte
com honra com coragem
com vontade
de um homem que aceitou a desonra
a falência
a insuficiência
o fracasso
herói este brasil
...eiro
que pula por tantos puleiros
que perdeu apesar
de seus
punhos de aço
sua força contida
neste momento da vida
em que caminha para o holocausto
são passos firmes os meus
quando enfrento essa minha sorte
...com a minha morte
o final de minha existência
sem ciência, sem excelência
o tempo
... para... agora
como um evento divino
em que caminho ao encontro
do final de meu próprio destino
não sou mais nada
me desidentifico
não levo mais alegrias
dessa jornada tão fria
encerro assim meus dias
com determinação
em aceitar como um cordeiro
a condenação
desta prisão
me entrego às ordens dadas
e aceito essa minha estrada
que aperta as cordas ao pescoço
neste país que condena seus filhos
ao caminho do calabouço
sem nada sem nada sem nada
sou Eustache de Saint Pierre
entrego as chaves ao inimigo
e me entrego a desistência da vida
aceito iniciar a partida
para
...outro extremo do universo
deixo imortalizado meu corpo
em sua energia de dor
mas...
é com a corda no pescoço
que se rompe todas as barreiras
do desejo
do medo
da ausência do tempo
de saber dizer eu quero
eu sigo
eu aceito
eu vou
minha alma
me entrego
faz de mim o que quiseres
sou a mais entregue das mulheres
a ti
a tua força
a tua arte
vem me derrubar mais uma vez
pois como Nietzsche anseio por esse tombo
rompe novamente o esteriótipo colado
impresso
expresso
com as cordas no pescoço
moldei
esculpi
tua forma
meu desejo
como escultora da vida
criadora de nova partida
deus em mim
sou deus agora
com a corda no pescoço
me tornei novamente deus
tue moi mille fois s`il te plait
pois quero ressurgir de minhas próprias cinzas
em cores
desejos
sabores
do fundo profundo
do inferno
da vida
vem me buscar minha alma
e me dá acolhida
sou tua mais uma vez
ausente do tempo presente
ausente do mundo amarrado
em teias
em fogueiras
em discórdias
desato assim essas cordas
que prendem
essas cordas no pescoço
que me pesam tanto na vida
deixo vibrar a magia contida
de desejo
e força
nada se assemelha agora a ti
minha alma querida
mais uma vez a decisão veio
com as cordas no pescoço
que tu minha alma me colocaste
para que eu pudesse enxergar
essa minha
força contida
alma minha querida
me entrego
me leva na vida
no limite
do ultimo instante
eu aceito novamente
...a partida